Gerenciamento de alarmes se torna pilar da segurança operacional e eficiência em plantas industriais

Estratégia estruturada reduz sobrecarga em operadores, evita falhas críticas e melhora a tomada de decisão em ambientes complexos

O gerenciamento de alarmes deixou de ser uma questão técnica secundária para ocupar lugar central na estratégia de automação industrial. Em plantas com processos contínuos e operações críticas, como refinarias, plataformas offshore e unidades de mineração, a forma como os alarmes são configurados, priorizados e monitorados impacta diretamente a segurança, a eficiência e até a viabilidade econômica das operações. 

A avaliação é do engenheiro eletricista Fábio Camargo Miki, especialista em sistemas de controle distribuído com experiência internacional em projetos de alta complexidade no Brasil, México e Moçambique. “Se todos os alarmes são tratados como urgentes, nenhum realmente é. O gerenciamento eficaz começa com a classificação correta e com a redução do ruído operacional que sobrecarrega os operadores”, afirma Miki. “Já vi situações em que, durante uma pane, mais de trezentos alarmes foram disparados simultaneamente, tornando impossível identificar o que realmente exigia ação imediata.”

Estudos da ARC Advisory Group indicam que mais de 75% dos alarmes disparados em ambientes industriais são considerados irrelevantes ou redundantes. Essa sobrecarga pode levar a erros humanos e atrasos em respostas críticas, principalmente quando os operadores desenvolvem o que a literatura técnica chama de alarm fatigue – uma dessensibilização frente a eventos constantes que aparentam urgência, mas não são relevantes.

O modelo recomendado por normas internacionais, como a ISA-18.2 e a IEC 62682, propõe a implantação de uma filosofia de alarmes clara, auditorias periódicas e métricas de desempenho, como a média de alarmes por operador por hora e o tempo de resposta aos eventos críticos. “Seguir essas diretrizes permite que os alarmes cumpram seu papel principal: indicar desvios operacionais relevantes com clareza e objetividade”, explica Miki.

Em sua atuação na Smurfit Westrock, Miki participou de projetos de reconfiguração de alarmes em sistemas de controle distribuídos(DCS). “Ao racionalizar os alarmes, conseguimos reduzir em até 60% os alertas falsos em determinadas áreas críticas. Isso aumentou significativamente a confiabilidade da resposta operacional e reduziu o tempo de parada não programada”, destaca o engenheiro.

Além da segurança, o gerenciamento de alarmes tem impacto direto na produtividade e na eficiência energética das plantas. Alarmes mal configurados podem levar a decisões equivocadas, como o shutdown desnecessário de equipamentos. “Com uma arquitetura bem definida, é possível inclusive prever falhas e tomar ações proativas, utilizando os alarmes como ferramenta de análise preditiva”, afirma Miki.

O processo, no entanto, exige investimento técnico e governança contínua. “Não basta configurar o sistema na fase de comissionamento e esquecer. É preciso revisar periodicamente os limites, documentar alterações e alinhar as estratégias com as áreas de segurança de processo e manutenção”, orienta o engenheiro, que também possui especialização em automação industrial pela PUC-PR.

Na visão de Miki, o gerenciamento de alarmes deve ser encarado como uma extensão da inteligência operacional. “Alarmes não são apenas alertas, mas dados valiosos que refletem a saúde da planta. Quando bem tratados, eles se tornam aliados da performance e da segurança. Quando negligenciados, viram fonte de caos e risco operacional”, conclui.

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